segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os sons de uma microfonia democrática

Qual o “tom” da nossa democracia? Entre as “traves” e a “espada”, a verdadeira face da democracia brasileira se revela. Gabamo-nos por sermos os mais rápidos e transparentes nesta democracia fast food do sufrágio universal e esquecemos a face sombria de uma “sociedade” imatura que, em meio à colheita tardia do regime de opressão, é atropelada por “primaveras” que jamais “verão” o seu apogeu.

De um lado, os votos de uma maioria em grande parte colonizada por políticas assistencialistas. De outro, o esclarecimento de minorias traídas em seu projeto socialista. No centro, ainda é possível ver o jogo, especialmente se em campo estiver Xavi e Iniesta. A maioria se mobiliza em direção às agências da Caixa a fim de garantir sua mesada, enquanto as minorias esclarecidas tomam as ruas para protestar pelo aumento das passagens de ônibus. Perto das quatro, o centro se prepara para ver o jogo com canjica e bolo de fubá. Histeria, gritos de guerra e o silêncio eloquente da “caxirola”.

Fonte globo.com
As três notas dão o tom e ressoam no “acorde” de um governo que se esconde em suas políticas de pão, repressão e circo. Para a maioria histérica, o “sopro” assistencialista. Para as minorias esclarecidas, a “percussão” das tropas de choque. Para o centro que acredita entender de futebol, o “coro” de uma estabilidade tupiniquim baixado na Apple Store. De longe, privilegiados assistem o espetáculo em seus “bancos” cativos.

Fonte: redebrasilvirtual.com.br

Uma democracia que se preze não se legitima apenas pelo voto. Democracia é uma forma de “ser” da política de uma sociedade. Não há democracia sem um povo educado, capaz não apenas de compreender as informações necessárias para a tomada sempre arriscada de decisões políticas, mas também a importância em si do livre fluxo dessas informações “dissonantes”. Exige instituições transparentes que tomem decisões cientes de que a legitimidade política das escolhas não se resume ao exercício do poder por uma autoridade competente. Requer Imprensa livre, que não apenas tenha o direito de dizer o que quer, mas também o dever de dizer o que não quer. Uma polícia consciente de que a “ordem” não será sinônima de um discutível “progresso”. Uma economia que garanta as condições materiais para o exercício da cidadania, e não meros financiamentos que retardem a inevitável exclusão. Um direito capaz de estabilizar conquistas e que, de modo autônomo, imponha-se diante da política. Uma política na qual os partidos assumam seus lugares e que o “polegar” de suas bandeiras ideológicas tragam mais possibilidades que o “like” do Facebook.
Fonte: gazetadopovo.com.br

Os últimos acontecimentos no Brasil mostram a imaturidade de nossa democracia. Alguns foram “às ruas” pelo medo de perder a bolsa, sem perceber que são as suas cidadanias que são o alvo da barganha. No estádio, vaiaram a Presidente não porque o governo resolveu gastar 1,6 bilhões em um estádio de futebol que só verá craques no nome, mas porque a alta da inflação e o “pibinho” podem prejudicar a viagem para Miami no final do ano. Para completar, o único movimento politicamente situado busca o “passe livre” em cidades onde já não é mais possível andar.


Enquanto isso, perde-se o macro. Seguimos sem “política”, sem “direitos”, sem “educação”, comprando a inclusão de cidadãos com uma falsa integração econômica e retaliando com truculência retalhos de manifestações. Nessa democracia de R$ 1,99, somos condenados a um arranjo pobre e desafinado. Dos gritos, ouve-se apenas o ruído estridente da nossa “microfonia”.

2 comentários:

  1. Parece impossível limpar o som para entendermos o que realmente se busca. Como traçar um caminho até o macro? Ontem vi uma postagem perguntando "qual o objetivo dos protestos" e a resposta foi, "você estava dormindo?"

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  2. Creio que só se pode sonhar com a depuração desse som angustiante numa republicanização efetiva do país, que só teria lugar se impessoalizássemos o poder de uma vez, pelo fortalecimento de instituições (MP, sindicatos, escolas, polícia comunitária, advocacia, associações) genuinamente acessíveis à massa que, só então, finalmente, exerceria o poder que a constituição jura, há 25 anos, que é seu.

    Parabéns pelo texto, professor; é tudo que eu diria, se tivesse tal eloquência, rs.

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